“Pois toda vez que você vai, parte de mim
também se vai isso não é normal!”
Caminhando pelas ruas frias de Londres me deparei
com a intensa vontade de ir até ele. Um desejo tão fumegante que me fez
apressar os passos e chegar mais rápido em casa.
Ele não estava lá. A
casa estava vazia, sem vida. Andei por entre o pequeno apartamento que havia
herdado de minha finada mãe e nada achei, nem um bilhete, nem uma carta, sequer
uma pista de seu desaparecimento.
Aos poucos os
questionamentos começaram a me assolar. Porque eu não conseguia agir
normalmente sem sua presença? Não conseguia viver sem sua presença? Comer,
beber, andar, falar?... Isso não era justo, ele conhecia minha dependência,
minha necessidade.
Sentei na cama e olhei
para o relógio que marcava 20:50 pm, deitei a cabeça ao travesseiro e apaguei.
Abri os olhos
assustada, e senti que meu corpo estava todo suado apesar do frio que fazia.
Cinco da manhã e ele ainda não havia chego. Peguei o telefone e disquei sem
pensar.
_ Alô! _ ele atendeu com voz
alegre.
Quem ou o que seria responsável por tal
felicidade?_ Eu com certeza não era.
_ Liam onde você está?
_ Não lhe diz respeito, não
mais!_ ele atacou rude.
Tentei continuar com a voz firme
e não denunciar meu desespero.
_Cadê suas coisas? Você não
deixou um bilhete. Preciso lhe contar uma coisa...
_O QUE PODE SER TÃO IMPORTANTE A
ESSA HORA? _ aquela pessoa que gritava comigo era a mesma doce e amável que eu
conheci meses atrás?
_Por favor, não faça assim, é
importante _ as lágrimas começaram a rolar sem controle.
_DIGA de uma vez!
Engoli em seco.
_Sabe aquela suspeita? Então...
Não é mais suspeita, é a pura verdade. Nós estamos...
_Cale a Boca – ele me interrompeu
_ não coloque nós nessa
história. Sabe o que eu desejo a você? Absolutamente nada, eu nunca te amei só me aproveitava de
você, sua ingênua, imbecil, inocente, idiota! _ Ele gargalhou ao final dos
insultos.
_Não estou falando da gravidez,
eu já havia lhe falado que era alarme falso, se você não estivesse tão bêbado,
talvez se lembrasse...
_Então o que é? DIGA LOGO!
_ Lembra que eu estava para
ganhar aquele dinheiro e que daria a nós a oportunidade de irmos para o Canadá
estudar e dar um salto em nossa carreira?
Silêncio.
_Esse dinheiro saiu e eu vou
semana que vem para lá. Como não há mais nós convidei o Kieran para ir comigo, só
queria te informar para caso de você ouvir falar na viagem e se sentir traído.
Mas creio que não, afinal não há mais entre a gente, certo?
O silêncio foi interrompido por
uma risada, mas agora não era de zombaria, havia mudado de tom.
_Amor, eu não acredito. Você
conseguiu querida! Sempre acreditei em você.
Nesse momento as lágrimas não
rolavam mais, era como se o véu que cobria o sentimento que ele sentia por mim
e que eu nunca soubera se era ou não verdadeiro, tivesse caído.
_Preciso desligar _ disse por fim.
_O que? PARA! Isso é brincadeira
não é? Nós vamos para o Canadá juntos não é? Diz meu amor, diz...
_Pareço estar brincando?
Mais silêncio.
_Você não pode ir amor! _ Ele
disse rapidamente, me deliciando com o seu desespero em vão a essa altura _
Sabe o que acontece comigo quando você vai?
Foi o estopim para o meu estouro.
_Todos os dias eu saía do meu
trabalho correndo para chegar em casa e encontrar você, te fazer carinho, uma
comidinha gostosa, cuidar das suas coisas e de você. Quando você finalmente
chegou a conclusão que não tiraria nada de mim “desapaixonou”. Sabe o que EU
sentia quando você saía de casa pela madrugada e voltava dias depois? Me sentia
um lixo. Pois esse lixo que eu era ficou para trás. Toda vez que você saía
parte de mim ia contigo, dessa vez eu vou partir e a parte que ficará com você
é a pior que há em mim, fraqueza, tristeza, solidão, desapontamento e desprezo.
Isso fica e caíra muito bem como companhia para sua vida de perdedor.
Coloquei o telefone no gancho e
respirei fundo, era isso. Agora não há espaço para coisas velhas. Dentro de mim
reinava uma nova mulher, novinha em folha.
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