Ah como fui ingênua! Eu pensava que ser como você queria já bastava, mas não era só isso. Você queria alguém que eu não era. Alguém que eu nunca fui e nunca serei. Por fora talvez, mas por dentro, nunca. Você queria uma mansão e eu sempre fui uma simples casinha de madeira, pequena, modesta e calma. Minha sorte foi que guardei o cômodo mais importante, o coração. Nele você não tocou. Você controlou minha maneira de falar, vestir, me portar, de comer, de sorrir, de cantar, mas não de sentir e de amar. Isso permanece intacto, mas frustado. Porque contudo, você me obrigou a te amar.
E agora que decorei todo o manual de instrução, serei obrigada a desaprender item por item. Quem vai querer alguém que outro alguém desenhou? Quem vai se apaixonar por mim se eu sou tudo o que "você" quer? Por que e para que você me invadiu afinal? Era só para me mudar, me girar de ponta cabeça, trocar minha mobília, tirar meu batom, pintar meu cabelo, só para eu deixar de ser eu? Se você pelo menos tivesse batido na porta, eu teria a oportunidade de escolher se você poderia ou não entrar, mas você me invadiu, me tomou por inteira. Para quê? Para agora me largar abandonada, sem chão, sem teto, sem parede?
Pois bem, mas não pense que vou ficar desabitada chorando suas magoas como uma velha casinha de madeira. Vou colocar a placa de "vende-se" de novo e vou aguardar o próximo inquilino, quem sabe ele goste de mim da maneira como eu sou e me ame aqui mesmo, na sala de estar.
Mônica Monteiro
Mônica Monteiro
2 comentários:
amei
Você queria uma mansão e eu sempre fui uma simples casinha de madeira.
*---*
Postar um comentário