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Desculpe, é engano.

Alô? _ Ele diz.
E só depois de ouvir sua voz que paro para pensar no que realmente vou dizer. Afinal o que tenho a dizer? Talvez palavras duras, rudes, fortes, ele bem que merecia. Talvez dizer que estava com saudade da nossa "vidinha", de como ele me chamava, da sua voz, do seu perfume, da sua pele, dos seus olhos, dele por completo. Mas não sou tão burra a esse ponto. Tenho amor próprio, diferente dele, me amo. E isso é a âncora para minha língua solta.
Ele ainda dizia alô repetidamente, quando simplesmente ficou em silêncio. Não tinha desligado, eu ouvia sua respiração e ele possivelmente ouvia a minha. Será que ele sabia que era eu, será que ele poderia receber a ligação de outra menina? Será que ele já estava em outra? Sei lá, a louca atrasada era eu. Dizer oi ou ir embora? Fiquei.
 Fiquei mais uma vez, por ele. Sempre fico. Ouvindo sua respiração calma e compassada. Te invejo até nisso, de onde vem tanta calma, de onde vem tanta segurança e facilidade de dizer tudo o que é preciso com os olhos? Menino você não precisa dizer nada, te entendo e te compreendo só pela maneira de você respirar antes de falar. Calmo e seguro de si.
_ Você não vai falar? Vou desligar.
Tremi. Ele sabe que sou eu! Ele sabe!
_ O que você está fazendo? Por que está me ligando? Não faz sentido, você não é assim.
 Ele tinha razão, para variar. Enlouqueci, estou bêbada, alucinada. Uma ligação não vai resolver as coisas, uma conversa não conserta nosso estrago, apesar de tudo, eu sabia, ele era meu passado. Mas a gente pega amor ao passado, não é? A gente sabe exatamente o que tem nele, o que esperar dele, se acostuma com as coisas ruins, se delicia com as lembranças das coisas boas. Mas e o futuro? Vazio, incompreensível e incerto. Não sabia o que aconteceria daqui para frente, eu sem ele. E pensei que ouvir sua voz me ajudaria a ver um caminho. Caminhar é sempre mais difícil quando o que queremos é ficar, paradinha, quietinha, esperando pelo milagre do tempo chegar. E aí sim quando ele chegar, quando ele me curar,  vou em frente, sem precisar de certas loucuras. Como essa que estou fazendo no orelhão da esquina, de pijama, de havaianas, nesse frio.
_ Desculpa moço, foi engano. _ disse com a voz rouca.
_Engano? _ sorriu tenso.
_ Sim, foi um engano te ligar, foi um engano te conhecer, mas agora vou fazer tudo certinho. Você vai ver.
_ Eu sei, confio na mulher maravilhosa, forte, linda, simpática, graciosa, mandona, conselheira, cuidadosa e teimosa que você é. Você é capaz de tudo com o sorriso que tem, tudo.
Desliguei o telefone. Sentei no meio fio e chorei.
 O pior de tudo é ouvir as palavras certas da boca de alguém que agora é errado. O pior de tudo é ouvir tudo o que eu queria ouvir, de quem eu realmente queria ouvir e me obrigar a achar aquilo incerto. Como demora e dói o processo de "desamar", principalmente em um telefone público.


Mônica Monteiro

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